Raul Mariano
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Minas Gerais é o único estado do Sudeste onde o número de homicídios com armas de fogo cresceu no período 2007/17. Enquanto São Paulo (-39,3%), Rio de Janeiro (-13,5%) e Espírito Santo (-10%) reduziram o índice, em território mineiro o crime cresceu 2,8%. Os dados são do Atlas da Violência 2019, publicado nesta quarta-feira (05/06) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Minas também é campeão no ranking nacional de aquisição de armamento para uso pessoal, conforme reportagem publicada pelo Interesse de Minas em março. No primeiro bimestre, a média de registros concedidos pela Polícia Federal aos mineiros era de 12 por dia.
De acordo com o Atlas, o cenário é preocupante. Estudos recentes comprovam, de inúmeras formas, a relação entre a quantidade de armas em circulação e o crescimento dos índices de violência.
O relatório aponta que “a cada 1% a mais de armas de fogo em circulação há um aumento de 2% na taxa de homicídios”. Em outro trecho, o texto diz que “não há qualquer relação da difusão da arma de fogo com a diminuição de crimes contra o patrimônio”.
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O documento destaca ainda a necessidade de se debater profundamente o afrouxamento das regras para posse e porte no país, depois do decreto publicado pela presidência da república em janeiro, desburocratizando o trâmite legal – portanto, facilitando o comércio.
“O perigo da venda de armas de fogo provocar o aumento do índice de crimes violentos – incluindo as mortes ocasionadas por conflitos interpessoais e feminicídios – tem sido objeto de análise nas edições anuais do Atlas da Violência. Nestas análises, são claras as evidências de aumento da violência e da criminalidade, desmentindo, assim, a retórica armamentista da autodefesa, nunca confirmada nas pesquisas científicas”, afirma o texto.
Homicídio de negros
Minas também se destaca no número de homicídios de negros, em relação aos outros estados do Sudeste no período de 2007 a 2017. O aumento foi de 13,3%, superando os índices do Rio de Janeiro (11,5%) e do Espírito Santo (1,4%). São Paulo chegou a reduzir o indicador em -16,7%.
Em relação ao sexo feminino, o número é ainda mais alarmante. Seis de cada dez mulheres vítimas de homicídio em Minas, em 2017, eram negras. Além disso, os ataques ao grupo cresceram 5,2% de 2007 a 2017, mais do que a média geral de assassinatos no estado, que aumentou 4,2%.
No contexto nacional, essa vulnerabilidade se torna mais visível segundo dados do Atlas. “Enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras teve crescimento de 1,6% entre 2007 e 2017, a taxa de homicídios de mulheres negras cresceu 29,9%. Em números absolutos a diferença é ainda mais brutal, já que entre não negras o crescimento é de 1,7% e entre mulheres negras de 60,5%”.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.