Venda da Refinaria Gabriel Passos, localizada em Betim, foi autorizada pelo Conselho de Administração da estatal (Foto: Petrobras/Divulgação)
Raul Mariano
raulmariano@interessedeminas.com.br
Desde que a venda da Refinaria Gabriel Passos (Regap) foi autorizada pelo Conselho de Administração da Petrobras, há pouco mais de uma semana, o clima de tensão tomou conta dos trabalhadores, que iniciaram uma série de protestos contra a decisão.
A unidade localizada em Betim tem mais de 50 anos de operação e uma área total de pelo menos 12 milhões de metros quadrados. A estrutura imensa não é por acaso. Além de abastecer o mercado mineiro, a refinaria ainda supre parte da demanda do Espírito Santo.
No local, além da gasolina, são produzidos diesel, querosene de aviação, combustível marítimo, gás liquefeito de petróleo (GLP), asfalto, enxofre e aguarrás. Produtos essenciais para a indústria e, por esse motivo, fonte abundante de riqueza.
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Para os funcionários, além do temor por demissões em massa após a venda, a insegurança em relação à atividade também é crescente. De acordo com o Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (Sindipetro-MG), a Regap vem registrando acidentes de trabalho recorrentes.
Anselmo Braga, coordenador do Sindipetro-MG, afirma que o maior medo de todos os empregados da Regap é que acidentes proporcionais aos que aconteceram com a Vale em Mariana e Brumadinho – ambos após a privatização – se repitam.
Ele diz que os custos com a manutenção da refinaria já foram reduzidos para que a empresa se torne “mais atraente para o mercado”. Uma estratégia que já teria sido adotada para preparar a venda.
“Nos últimos 12 meses, tivemos três vazamentos com alto risco para os trabalhadores. Um deles levou um funcionário para o CTI, e ele perdeu parte do couro cabeludo”, relata.
ANÁLISE
Concorrência pode beneficiar consumidor?
Para o economista e professor do Ibmec Márcio Salvato, a venda da Regap, de fato, é uma evidência de que a Petrobras caminha rumo à privatização completa. Ele defende, no entanto, que a medida é positiva.
“Acabar com o monopólio do setor é importante porque você cria concorrência e pode, no futuro, trabalhar com preços menores para o consumidor final”, avalia. “Hoje, a Petrobras controla as todas etapas do processo, desde a extração do petróleo à venda da gasolina”, diz.
“Acabar com o monopólio do setor é importante porque você cria concorrência e pode, no futuro, trabalhar com preços menores”
Márcio Salvato, economista e professor do Ibmec
O alinhamento dos preços praticados pela Petrobras ao mercado internacional – alternativa defendida como a mais adequada para a atração de investimentos – é outro ponto de discussão sobre o futuro da maior estatal brasileira.
Se, por um lado, a flutuação é bem vista pelo mercado, por outro, pode pesar no bolso do consumidor em momentos de alta como o atual, em que o litro da gasolina já passa dos R$ 5,00 em alguns postos da Grande BH.
No caso do diesel, a situação pode ser ainda mais delicada, já uma elevação repentina pode afetar em cheio a rotina dos caminhoneiros e motivar novas paralisações, como as que ocorreram em 2018 e promoveram um cenário caótico em todo o país.
“É primordial eliminar as variáveis especulativas e estabelecer cálculos considerando o preço real do produto”
Paulo Bretas, presidente do Conselho Regional de Economia
“O grande problema, nesse caso, é a enorme especulação que orienta essa política”, avalia o presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-MG), Paulo Bretas.
“Não sou contra a privatização de todos os setores, mas é primordial eliminar as variáveis especulativas e estabelecer cálculos considerando o preço real do produto”, defende o economista.
A Petrobras foi procurada pela reportagem, mas não se posicionou até o momento de publicação da matéria.
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