Como Minas Gerais se tornou uma das referências em startups no Brasil? - Interesse de Minas

Como Minas Gerais se tornou uma das referências em startups no Brasil?

União dos empreendedores e investimentos públicos e privados são alguns fatores que explicam o desempenho das startups mineiras

foto do evento Hackathon BS2
União dos empreendedores e investimentos públicos e privados são alguns fatores que explicam o desempenho das startups mineiras (Crédito: Pedro Vilela)
Patrícia Adriely
patricia@interessedeminas.com.br

A indignação e a curiosidade levaram o mineiro Max Oliveira, formado em engenharia de produção, a criar uma startup. Em 2013, ele foi comprar uma passagem aérea para visitar a namorada, e o preço no site da companhia aérea subiu em questão de minutos.

Max Oliveira, fundador da Max Milhas
Com apenas seis anos de existência, a startup de Max Oliveira já negociou mais de 20 bilhões de milhas e vendeu mais de 2,5 milhões de passagens aéreas (Crédito: Divulgação / MaxMilhas)

“Naquele momento, notei que a quantidade de milhas necessárias para o mesmo voo não tinha sofrido alteração. Não consegui viajar e fiquei ainda mais inconformado quando pesquisei a fundo sobre o mercado aéreo. Em 2014, por exemplo, os brasileiros deixaram de resgatar 53,4 bilhões dos pontos gerados nos programas de relacionamento dos cartões de crédito, o equivalente a 24% da pontuação obtida nesse mesmo ano. Pensei que poderia comprar as milhas de alguém e aí tive a ideia”, relembra.

Assim surgiu a empresa MaxMilhas, um site que media a compra e venda de milhas aéreas e emite passagens de avião. Com apenas seis anos de existência, ela já conta com mais de 350 funcionários, negociou mais de 20 bilhões de milhas, vendeu mais de 2,5 milhões de passagens aéreas e se tornou um case de destaque no Brasil.

Minas Gerais é o 3º estado com maior número de startups no Brasil

A startup de Max não é um ponto fora da curva, pelo menos em terras mineiras. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), Minas Gerais é o terceiro estado com maior número de startups no Brasil, atrás apenas de São Paulo e Rio Grande do Sul. Essa categoria de empreendimento é definida como empresas em fase inicial que desenvolvem produtos ou serviços inovadores e com potencial de rápido de crescimento. Das 10.124 startups espalhadas pelo país, 844 estão em Minas, sendo que pouco mais da metade delas, 442, está localizada em Belo Horizonte.

O estado ocupa o 2º lugar no índice de eficiência na geração de startups

Ainda segundo estudo da Abstartups, Minas Gerais ocupa o segundo lugar no índice de eficiência na geração de startups, ficando atrás apenas de Santa Catarina. Para este índice foi utilizado o cálculo do PIB por estado/número de startups.

Vitor Peçanha, Diego Gomes e Edmar Ferreira, da Rock Content
Vitor Peçanha, Diego Gomes e Edmar Ferreira, criaram a Rock Content, uma das maiores empresas de marketing de conteúdo do mundo (Foto: Ana Paula Assis Leite)

Outra startup de sucesso que surgiu em Minas Gerais é a Rock Content. A empresa de marketing de conteúdo foi idealizada pelo belo-horizontino Vitor Peçanha, pelo montes-clarense Edmar Ferreira e pelo ouro-branquense Diego Gomes em 2013. “A gente viu que existia uma demanda grande de produzir conteúdo para outras pessoas, por meio de marketing de conteúdo. Então juntamos dinheiro, largamos nossos empregos e fomos fazer a startup dar certo. A nossa meta, ao abrir a empresa, era ter 100 clientes em seis meses”, relata Vitor.

Eles alcançaram a meta com um mês a menos. Hoje a Rock Content é uma das maiores empresas de marketing de conteúdo do mundo, conta com mais de 2 mil clientes e, em 2017, teve um faturamento de R$ 35 milhões.

Jeitinho mineiro de empreender

Um dos fatores que pode explicar o sucesso de Minas Gerais com as startups é a união. Pelo menos é o que afirma os próprios empreendedores do setor. “A principal vantagem de ter uma startup em Minas é que ela é cheia de mineiro, e mineiro gosta de bater papo”, brinca Vitor, cofundador da Rock Content.

Ele explica que quando sugiram as primeiras startups em Belo Horizonte, os empreendedores se reuniam para discutir ideias e trocar experiências. “Temos grupos em redes sociais, muita gente se encontra regularmente… Entre as startups mais antigas, todo mundo é amigo e se conhece”, afirma.

“A principal vantagem de ter uma startup em Minas é que ela é cheia de mineiro, e mineiro gosta de bater papo”

Vitor Peçanha, cofundador da Rock Content

Max Oliveira, fundador da MaxMilhas, confirma. “O mineiro tem um senso de comunidade incrível, e acredito que isso seja determinante. A MaxMilhas surgiu com o apoio de muitas outras empresas que também estavam começando. Essa cultura do coletivo criou um ecossistema de inovação e uma cultura empreendedora. Se alguém tem uma ideia, consegue encontrar mentores e muita gente disposta a ajudar”, relata.  

Essa união levou à criação de mais de 20 comunidades, que estão espalhadas por todo o estado. A maior delas está localizada em Belo Horizonte e recebeu o nome de San Pedro Valley. Ela surgiu em 2011, durante encontros informais dos empreendedores e, hoje, é referência para empresas de base tecnológica na capital mineira. Mais de 200 empresas de diversos setores fazem parte da comunidade.

Ambiente propício para inovação

Além desse ambiente de união, esse desempenho mineiro pode ser explicado pela rede significativa de universidades e centros tecnológicos espalhados pelo estado. É o que afirma a analista da Unidade de Acesso à Inovação e Sustentabilidade do Sebrae Minas, Carla Batista Ribeiro. Atualmente, Minas Gerais tem a maior concentração de universidades federais do Brasil. Para ela, esse ambiente contribui para a formação de talentos com qualidade técnica em diversas áreas.

A especialista ressalta também a presença forte e consolidada de ambientes de inovação no estado, tais como incubadoras, parques, laboratórios abertos e centros de pesquisas prestadores de serviços tecnológicos e de inovação.

Outro fator destacado por Carla é a demanda empresarial por inovação e tecnologia para incremento da competitividade nos segmentos produtivos.

Iniciativas públicas e privadas

O desempenho das startups mineiras levou à implementação de políticas públicas para fomentar a criação de startups e o empreendedorismo de base tecnológica. Além disso, a iniciativa privada criou mecanismos de incentivos.

Grandes instituições mineiras, entre elas, UFMG, Sebrae, Fiemg, Faemg, Fundação Biominas promoveram e colaboraram com projetos destinados para empreendedores de startups.

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O Hackathon BS2 é uma das atividades promovidas pela iniciativa privada (Crédito: Pedro Vilela)

Também foi criado no estado, em 2013, um programa de fomento do ecossistema de empreendedorismo e inovação, chamado Seed (Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development). Minas Gerais é o único estado brasileiro a ter uma iniciativa governamental com esse propósito.

Em outra ação com foco no fomento das startups, a Prefeitura de Belo Horizonte publicou, neste ano, um decreto municipal flexibilizando o Programa de Incentivo a Instalação de Empresas (Proemp). A determinação diminui em 60% o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) e em 10% o IPTU para empresas de tecnologia que se instalarem na capital mineira.

“Acredito que o poder público vem se sensibilizando para criar um ambiente onde as empresas floresçam. Além disso, há entidades e a sociedade civil fomentando e ajudando o ecossistema de Minas para aumentar o desempenho das empresas que já existem”, afirma a empreendedora Mônica Hauck, CEO da Solides, startup mineira especializada em gestão comportamental e people analytics.

Foto de Mônica Hauck, CEO da Solides
A startup de Mônica Hauck é especializada em gestão comportamental e já atendeu mais de 30 mil clientes (Crédito: Divulgação / Solides)

Mônica já tinha outra experiência como empreendedora, inclusive na área de tecnologia. Ela relata que o grande diferencial para o sucesso da Solides foi conhecer o mercado e ver a fundo quais eram as principais dificuldades e as necessidades dos gestores de pessoal. Atualmente, a empresa já atendeu mais de 30 mil clientes e realiza mais de 5 mil relatórios comportamentais por mês.

A especialista do Sebrae Carla Ribeiro ressalta a importância das startups na economia mineira. “É uma estratégia bem-sucedida para iniciar a diversificação da matriz econômica do estado, incorporar tecnologia e inovação por meio de conexões com os setores produtivos tradicionais e também fortalecer o ecossistema mineiro, aumentando fluxo espontâneo de investimentos e retenção de empresas”.  

Quer abrir uma startup? Confira as dicas da analista do Sebrae

Para a analista da Unidade de Acesso à Inovação e Sustentabilidade do Sebrae Minas Carla Batista Ribeiro os principais desafios de montar uma startup estão ligados à compreensão clara do problema que se quer desenvolver a solução. Por isso, ela dá dicas para quem quer ser empreendedor nessa área.

  • Analise se sua empresa gera uma solução que atenderá um número de pessoas que gerará escalabilidade e replicabilidade em outras partes do Brasil e do mundo;
  • Averigue se a solução proposta pela startup tem diferencial;
  • Identifique o modelo de negócios, qual a proposta de valor, qual a melhor forma de entregar este produto ou serviço e como monetizá-lo;
  • Tenha atenção na formação de time, desenho jurídico adequado do negócio que permita acessar investimento de capital empreendedor (investidor anjo, fundos de venture capital etc);
  • Preocupe-se também com desafios ligados a questões corporativas tradicionais de gestão interna, tais como contabilidade e gestão financeira, cultura organizacional, gestão de pessoas e gestão do crescimento. Observe também as variáveis externas, como burocracia, juros altos na tomada de crédito, carga tributária, concorrência com grandes players etc.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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