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“O cuidado da Vale com o monitoramento de suas barragens, junto aos exercícios de simulados, possibilita que empregados e comunidade se sintam mais seguros e preparados para proceder em caso de emergência. Estar bem orientado e informado é imprescindível para fortalecer a cultura de prontidão”.
Foi dessa forma que Lecilda Oliveira, moradora de Brumadinho e funcionária da Vale por 30 anos, descreveu a postura responsável da mineradora em um panfleto institucional publicado em novembro do ano passado pela companhia.
Mal sabia a trabalhadora que, cerca de dois meses depois, ela estaria na lista dos mais de 200 mortos no maior crime ambiental e humano já visto no segmento da mineração no país. No momento, mais de 100 pessoas continuam desaparecidas. O corpo de Lecilda ainda não foi localizado. “No último dia 27 de fevereiro, ela fez 50 anos. Infelizmente, dentro da lama”, relata, ainda em luto, Natália Oliveira, irmã de Lecilda.
“Minha irmã dedicou a vida dela àquela empresa. Ela tinha orgulho de vestir aquele uniforme”, afirma Natália. “Mas a Vale nunca deu a ela o mesmo valor que ela deu à Vale”, lamenta.
O panfleto, que foi distribuído para moradores das cidades de Belo Vale, Brumadinho, Congonhas, Jardim Canadá, Macacos, Olhos D’Água e Sarzedo, afirma que “em 76 anos de trajetória, a Vale não possui histórico de acidentes em suas barragens. Com o total de 111 barragens distribuídas em 17 municípios mineiros onde a empresa atua, 100% delas têm atestado de estabilidade garantida, conforme auditoria externa finalizada em setembro deste ano”.
O folder também traz uma lista de ações, relacionadas ao Plano de Ação de Emergência em Barragens, que a empresa afirmou estar desenvolvendo à época, entre elas, simulados de emergência, instalação de sirenes e encontros técnicos para discussão e troca de experiências relacionadas à cultura de prevenção.
Conhecida em Brumadinho como “Lecilda da Vale”, a funcionária que fez carreira na companhia deixou dois filhos e uma legião de admiradores. Natália conta que a irmã era madrinha de casamento de vários colegas de trabalho, já que a simpatia e o companheirismo eram marcas registradas dela. “Estava sempre sorrindo. Era grata por tudo”, diz.
Lecilda ocupava o cargo de analista de operações, função que conseguiu depois de passar por várias promoções na empresa. Ao longo dos anos, relata Natália, a irmã alcançou o reconhecimento profissional que sempre buscou, uma vez que era extremamente dedicada ao trabalho.
“Viemos de uma família humilde, e ela conseguiu, pelo próprio esforço e competência, fazer curso superior, melhorar a condição financeira, ter um carro e uma casa”, conta Natália.
As memórias de uma trajetória de sucesso e reconhecimento, no entanto, não foram suficientes para amenizar a angústia que toma conta da família desde o fatídico dia 25 de janeiro.
Os indícios de que a barragem da Mina do Feijão poderia se romper foram percebidos ainda em 2018, por outro funcionário de carreira da Vale. O comunicado foi feito por Olavo Henrique Coelho, um dos empregados mais antigos da companhia, em Brumadinho.
Em depoimento dado pelo filho de Olavo ao Ministério Público mineiro, há informações contundentes de que os responsáveis técnicos pela barragem tiveram tempo de agir preventivamente, mas não o fizeram.
Olavo foi procurado cerca de oito meses antes do desastre para avaliar um pequeno vazamento na barragem e, na ocasião, foi incisivo: “Era para tirar todo o pessoal” porque a construção “estava condenada e não tinha mais conserto”.
Sem formação superior, mas dono de uma experiência prática que era referência para todos os especialistas que atuavam no local, Olavo era constantemente solicitado pelos gerentes da mina para opinar sobre os sinais que pudessem condenar a estabilidade do reservatório.
Apesar do alerta de Olavo, os chefes, técnicos e gerentes presentes afirmaram que não seria possível interditar o local porque havia muita gente e empregos envolvidos e que buscariam uma empresa especializada para consertar a barragem.
Diante disso, restou a Olavo fazer um alerta ao filho: “Você que trabalha próximo à barragem não fica em parte baixa não, caso ocorra algum barulho, corra sentido predinho, porque qualquer hora aquilo lá vai romper”.
Assim como no caso de Lecilda, o funcionário também se tornou vítima do rompimento da barragem à qual dedicou décadas de trabalho. O corpo dele, pelo menos, já foi encontrado no mar de lama.
A barragem B1 da Mina do Feijão foi construída em 1976 pela Ferteco Mineração, empresa adquirida pela Vale em 27 de abril de 2001. A estrutura tinha 87 metros de altura e foi alteada pelo método a montante, o mesmo da barragem de Fundão, em Mariana. O dano potencial era classificado como alto.
Os rejeitos acumulados até o dia do desastre ocupavam uma área de 249 mil metros quadrados, e o volume disposto era de aproximadamente 12 milhões de metros cúbicos. Além disso, a barragem tinha laudos atestando sua estabilidade e segurança, conforme nota da Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM).
Em julho de 2016, as operações de beneficiamento do minério no local passaram a ser realizadas a seco. A partir daí, a barragem deixou de receber rejeitos, o que não evitou a tragédia sem precedentes. Segundo a Vale, 600 trabalhadores, incluindo terceirizados, estavam empregados na Mina do Feijão.
Ex-funcionários da Ferteco relatam que citar a extinta empresa é essencial para entender a história da mina de Córrego do Feijão. Eles afirmam que a companhia, pertencente ao grupo alemão Thyssen Krupp Stahl, administrava suas minas de forma diferente do que se vê hoje sob a gestão da Vale.
Em entrevista, um dos poucos empregados, que atuou no local desde a Ferteco e mora em Brumadinho e preferiu não se identificar, afirma que a Vale é “muito grande e focada em atingir e superar metas de produção e vendas” (vide depoimento completo abaixo).
Antes da aquisição, a Ferteco atuava em várias regiões de Minas Gerais e foi uma das principais concorrentes da Vale, na época ainda chamada Companhia Vale do Rio Doce.
Após a privatização da Vale, nos anos 2000, a companhia adotou uma estratégia de expansão para dominar a produção nacional e competir com os concorrentes internacionais. Ela venceu uma disputa milionária para adquirir a mina de Congonhas, derrotando gigantes estrangeiras da mineração, como a norte-americana Anglo American e a australiana BHP (essa última é sócia da Samarco, responsável pela barragem que se rompeu em Mariana em 2015).
“Nós que fomos empregados da Ferteco antiga, depois, na época da transição, que começou em 2001 e terminou em 2003, e após a Vale, observamos claramente a mudança radical de postura corporativa, ritmo e qualidade do trabalho na empresa.
Se a Vale é muito grande e focada em atingir e superar metas de produção e vendas, numa espiral de crescimento que nunca parou, a Ferteco trazia as suas operações de forma mais caprichada, com mais rigor técnico e melhor desenvolvimento dos seus profissionais.
Trabalhar na Ferteco era quase que um convívio familiar. O dia a dia numa grande escola profissional. Na Vale é diferente. O trabalhador é um número. Uma peça de um sistema de produção programado para bater metas. Mesmo com o discurso e a grande quantidade de procedimentos escritos, nem sempre a confiança, a técnica e a segurança estão em primeiro lugar.
Excelência profissional, rigor técnico, esmero, limpeza e confiabilidade das instalações e confiança nos seus empregados sempre foram marcas registradas do sistema de trabalho implantado pelos alemães que deixaram o legado Ferteco, infelizmente, extinto para sempre.
Feijão em tragédia e Fábrica em vias de parar a produção por problemas em barragens são indicadores de que a grande e poderosa Vale precisa rever seus métodos, processos e cuidados para com o ser humano e o meio ambiente”.
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Trabalho muito bem realizado. Trabalhei em Fábrica de 1976 a 2013 e as comparações entre as empresas está corretíssimo.