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As fortes chuvas que atingem Minas há cerca de uma semana já deixaram 54 mortos e mais de 30 mil desabrigados. Os estragos são contabilizados em diversas regiões do estado, até mesmo em áreas rurais, mas na maioria dos casos o problema tem uma razão comum: a falta de planejamento urbano.
A ocupação inadequada do solo, problema presente na maioria das cidades de médio e grande porte, é apontada por especialistas como um dos principais motivos para as enchentes, alagamentos e deslizamentos que chocaram o país nos últimos dias.
A capital mineira, que nos últimos dias foi arrasada pelas chuvas inclusive em bairros da zona sul, é um exemplo perfeito para o problema. Com um projeto urbanístico que optou por canalizar a maioria dos grandes rios, a metrópole agora precisa conviver com o risco de ser submersa a cada nova tempestade.
O urbanista Sérgio Myssior explica que a adoção do modelo seguido por BH, quando o engenheiro Aarão Reis projetou a cidade, há 122 anos, foi inspirado em projetos internacionais, considerados os melhores à época.
“A oferta e a disponibilidade de água na região foi um dos fatores que influenciaram a escolha do lugar para a implantação da capital. Nas décadas de 1960 e 1970, houve um programa intenso de canalização dos rios, como aconteceu com o Leitão, que passa pela Prudente de Morais e vai até o Centro. Todos esses mananciais recebiam esgoto e os gestores, à época, entenderam que a melhor solução para esse problema sanitário seria canalizar tudo”, explica.
Myssior ressalta, ainda, que a verticalização da cidade reduziu dr asticamente as áreas que poderiam absorver parte da água das chuvas. “Com o crescimento dos prédios substituindo casas que tinham quintais com áreas permeáveis, a água passou a ser totalmente direcionada para o sistema de drenagem pública e o resultado é esse que estamos assistindo”, analisa o especialista.
Em todo mundo, o problema das enchentes é um ponto de preocupação para gestores públicos e, até o momento, não há soluções definitivas para a questão, afirma Myssior. Para ele, o uso de parques e áreas naturais como pontos de drenagem da água é uma das possibilidades.
“BH tem mais de 70 parques, que podem ser usados melhorar a capacidade de drenagem e retenção dessa água de chuva. As áreas de lazer podem se transformar em piscinas durante a chuva, como bacias de acumulação para retardar a dispersão dessa água”, sugere.
Outra alternativa citada pelo urbanista é criar, nos prédios, caixas de retenção e retardo, que podem ficar no subsolo para se encherem durante as chuvas. “Há ainda a urgência na habitação de interesse social, que não existe e gera um déficit enorme. Assim, áreas de risco são ocupadas, como tem acontecido em todo estado”, conclui.
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