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Sem perspectivas de conseguirem emprego no curto prazo, milhares de mineiros recorreram à fé no Dia do Trabalhador. Em Contagem, na Grande BH, a missa realizada com a presença de dezenas de sindicatos foi marcada pela comoção de fiéis. Com as carteiras de trabalho hasteadas para serem abençoadas na celebração, a maioria depositou as esperanças nas mãos de São José, o protetor dos operários.
O sol escaldante não esmoreceu a multidão que, às 9 horas, já se aglomerava na Praça da Cemig. Mas o suor brilhando nas testas também escancarou o sofrimento de um contingente que, a cada dia, parece se tornar maior. Minas tem pelo menos 1,3 milhão de desempregados – em todo o país, são mais de 13 milhões na mesma situação, segundo dados do Caged.
Se, por um lado, a água benta jogada sobre tanta gente trouxe alívio diante do calor momentâneo, por outro, os humores não se abrandaram. A cerimônia foi marcada pela postura irredutível de diversas categorias contra a Reforma da Previdência.
Entidades representativas de professores, gráficos, metalúrgicos e diversas outras ocupações espalharam faixas por toda a praça para deixar clara a postura contrária à medida. Para o governo federal, essa é a grande aposta para equalização das contas públicas e a volta da geração de empregos. O consenso entre as duas partes é zero.
Uma senhora de 53 anos, chamada Maria Inês, que usava o folheto com a liturgia da missa para proteger o rosto do sol, sintetizou o sentimento mais representativo para aquela manhã.
“A gente não pode confiar nos governantes porque, a cada dia, eles demonstram que não se importam com quem trabalha. Então, nós temos que confiar é só em Deus mesmo”, disse.
Trabalhadora do setor têxtil, ela sente na pele as dificuldades de conseguir se recolocar no mercado. O segmento, de acordo com números do Caged, teve um dos piores desempenhos no estado nos últimos 12 meses. Foram mais de 34 mil desligamentos no período.
Com olhar abatido, aquela senhora demonstrou encontrar alento apenas cantando um hino que foi entoado por quase todos os presentes e que, em algum momento da letra, dizia: “Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão/Se fecharem os poucos caminhos, mil trilhas nascerão”.
Depois da missa, muitos ainda seguiram pelas ruas do bairro Cidade Industrial em atos de repúdio contra as reformas da Previdência e trabalhista e, também, contra os aumentos anunciados para a passagem do metrô de BH. Dona Maria Inês seguiu a pé para casa. “Deixa eu correr lá pra arrumar meu almoço, menino. Não pode parar, né?”, disse, se despedindo.
Em diversas cidades de todo o país, o Dia do Trabalhador também foi marcado por atividades e protestos contra a reforma da Previdência nos moldes que está sendo proposta pelo governo Bolsonaro.
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