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A extinção do ensino integral em pelo menos 1.140 escolas estaduais de Minas vai comprometer a vida estudantil de 81 mil alunos e, de quebra, impactar o orçamento de suas famílias.
O corte drástico equivale a 70% das instituições que se enquadravam nessa modalidade e é uma das primeiras medidas significativas do governador Romeu Zema na área educacional.
Na prática, o ensino integral continuará existindo em apenas 500 instituições estaduais, que atenderão somente 30 mil estudantes do Ensino Fundamental. O número equivale a 10% do total de alunos que deveriam ser contemplados com base na meta do Plano Nacional de Educação (PNE).
As escolas que serão poupadas, de acordo com o governo, são aquelas que apresentaram maior situação de vulnerabilidade social e que já ofertavam a Educação Integral e Integrada em anos anteriores.
Segundo a Secretaria de Estado da Educação, a mudança é um reflexo da “extrema precariedade da situação financeira do governo de Minas Gerais”. O retrocesso acontece justamente em um momento em que a área demanda investimentos robustos e, a julgar pelos resultados nas avaliações nacionais, urgentes.
“Segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o terceiro ano do ensino médio da rede estadual tem sido insatisfatório e abaixo do ideal de 6 pontos”. Essa informação consta do próprio plano de governo apresentado por Zema durante a campanha eleitoral, em 2018.
Na comparação entre ensino público e privado, o distanciamento também é gritante no estado. Resultados da Prova Brasil – avaliação do MEC para medir o rendimento escolar no país – mostraram que Minas tem a maior discrepância em matemática para alunos do 9º ano do Ensino Fundamental.
Nas escolas públicas, o desempenho médio foi de 257,41 pontos e, nas privadas, de 325,97. Uma diferença de 68,56 – a maior entre os estados do Sudeste.
Para especialistas em educação, Minas está “na contramão do mundo”. Luciano Mendes de Faria Filho, doutor em educação pela UFMG e membro do projeto “Pensar a Educação, Pensar o Brasil”, afirma que a maior parte das nações que investem em educação estão ampliando a jornada diária de estudos.
“O tempo escolar no Brasil, de modo geral, é muito próximo do que já acontecia no século XIX. Agora, para piorar, a opção do atual governo precariza ainda mais a vida de milhares de famílias em Minas”
Luciano Mendes de Faria Filho, doutor em educação pela UFMG
Ele defende que o ensino integral é necessário para adequar a educação pública às exigências contemporâneas, incorporando mais áreas de conhecimento à grade curricular dos alunos.
“Mas o Brasil sempre economizou muito com educação”, ressalta. “O próprio modelo que tínhamos de escola integral, até agora, era um arremedo do que seria ideal”, afirma o acadêmico.
Para o especialista, os impactos na vida familiar dos jovens serão inevitáveis. “Apesar das deficiências, a escola integral oferece segurança aos pais, que não podem simplesmente deixar os filhos com um vizinho e ir trabalhar”, explica. “Portanto, essa mudança afeta profundamente a compatibilização do tempo de trabalho desses núcleos familiares”, acrescenta.
“É um golpe à cidadania e também uma economia porca, já que a dívida que nós vamos pagar no futuro é muito maior”. A avaliação é do presidente benemérito da Federação das Associações de Pais e Alunos das Escolas de Minas Gerais e assessor da Associação dos Professores Públicos de Minas Gerais, Mário de Assis.
Ele afirma que, mesmo demandando melhorias do ponto de vista pedagógico, a escola em tempo integral desempenha bem o lado do amparo e da proteção aos alunos. As crianças, defende Assis, precisam “ser amparadas pelo Estado, pois elas estão fadadas ao convívio com o tráfico de drogas, com a pedofilia”.
Consternado, Assis ainda lamenta a dependência que tantas famílias têm da escola integral. Em muitos casos, salienta, a instituição é o local onde a criança tem acesso à melhor refeição do dia. “Esses fatores sociais precisam ser considerados. É triste ter que reconhecer isso”, conclui.
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